Coletivo São Paulo | Minas
Flavia Liberman, Viviane Maximino, Angélica Carvalho Lemos e Marcia Moraes |
'Creio no bordado integrado à Arte Têxtil e ao movimento do Artivismo, como este momento de transformar o emaranhado até tecer o fio, é o enovelar, unir novelos das histórias, é a pulsante tentativa de criar fios que operam como enlaçamentos de vínculos. Esperançar e inspirar a atitude coletiva de tecer para urdir a nossa resistência feminista'
Angelica Lemos In: LEMOS, Angélica Carvalho. Quando as agulhas falam: memórias, bordados e foto-gestos.Revista CARTEMA, Recife, n. 10, p. 240-246, Abr. 2022.Disponível em: https://doi.org/10.51359/2763-8693.2022.25119 |
Between May 20th and 26th 2024 we will set up the 'Mãe Terra ' Exhibition at the Academic Congress of the Federal University of São Paulo and we will do embroidery rounds daily. The embroidery produced will be part of the exhibition. We will send some works to the next exhibitions. I'm supporting a new embroidery group with elderly caregivers with the question: How are you taking care of yourself to take care of people? Can art be a path of care? Let's embroider the different care actions of these participants: "Taking care of those who care." Flavia, 04-04-2024 |
Corpo, natureza e processos de criação |
Coordenação: Flavia Liberman e Viviane Maximino
Apoiadoras: Angélica Carvalho Lemos e Marcia Moraes |
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Somos Natureza: imaginando futuros possíveis |
Coordenação: Marcia Moraes Apoio: Flavia Liberman, Viviane Maximino e Angélica Carvalho Lemos |
... estive no Xingu, acompanhando a finalização de um Kuarup (ritual mortuário), e convidei indígenas da etnia Waurá (do Alto Xingu) para participarem do projeto.
Quando estive lá, realizamos uma roda de conversa com algumas lideranças femininas, quando foram abordadas questões sobre o lugar da mulher indígena, infância, preservação da cultura, alimentação, natureza etc. Os temas abordados na roda estavam em sintonia com o que apresentei sobre o projeto Cartografias Têxteis, quando fiz o convite. O processo já teve início, desde então, mas os desafios são enormes! Para vocês terem uma ideia da distância e dificuldade de acesso, para chegar lá, eu viajei de avião até Goiânia (800 km), de lá, segui em um ônibus de linha, viajando 900 km, e depois peguei um ônibus fretado, e viajei mais 160 km em estrada de terra, para chegar na aldeia Mehinako, onde aconteceu o Kuarup. Temos dificuldade de comunicação, tanto pela língua, quanto pela internet, que é muito ruim, lá. Enfim, o processo está sendo muito intenso e interessante, Marcia, 16/11/2022 |
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BORDAR A ESPERA |
Coordenação: Angélica Carvalho Lemos
Apoio: Flavia Liberman, Viviane Maximino e Marcia Moraes bordados: Maria das Graças Carvalho Lemos, Angélica Carvalho Lemos. |
Leonardo Boff já nos convocava para o encontro com a natureza com a compreensão integrativa da Mãe Terra: “por sentir-nos filhos e filhas da Terra, vivenciando-la como Mãe generosa. Ela é um princípio gerativo. Representa o feminino que concebe, gesta, e dá à luz. Emerge assim o arquétipo da terra como Grande Mãe, Pacha Mama e Nana” (BOFF, 1999, p.35).
Abraçando a epistemologia do Sul e descolonial Ailton Krenak nos desperta para a potência de cuidar da Mãe Terra por meio de gestos sutis, ações que podemos tramar no nosso lar e que ressoam no território. “Nós mudamos o mundo a partir do nosso quintal. Aqui onde eu estou, na beira do rio Doce, me engajo nas rotinas domésticas, na horta, no plantio de árvores. São coisas que eu posso fazer com minhas mãos e outras pessoas podem fazer junto comigo. Eu acho que a gente tem que tecer esperança a partir de coisas práticas; é a partir do real que nós vamos construindo uma saída” (KRENAK, 2021 apud REIS, 2021). Ao tecer as Cartografias Têxteis, a compreendemos como a artesania do bordado manual tece a espera e esperança. E acolhemos a Esperança conforme Paulo Freire, “A esperança é uma necessidade ontológica [...] (FREIRE, 1992, p.5). Assim “enquanto necessidade ontológica a esperança precisa de prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira assim, espera vã”. Bordar a espera busca um breve cartografar frente a atitude de esperar, do porvir, ou seja, partilhar o momento fértil do nosso período de 2021 e 2022 que antecede o nosso início de atuação com os grupos. O coletivo de mulheres de herança artesã, composto por mulheres que partilham vínculo familiar (mãe e filhas), bordaram cada uma em seus lares, e frente ao desafio de bordar atrelado ao cuidado (cuidar do lar, cuidar das crianças, cuidar de si). Há registros de processos em andamento, pontos de bordado do mostruário. A linha-guia está ancorada na cartografia, na qual a guia não se restringe a direção pois pode nos remeter ao cão-guia conforme Barros e Passos (2006) apud Liberman (2015): “Durante a condução, o cão deve ter a capacidade de acompanhar o caminho a ser traçado pelo cego sem, no entanto, determinar o percurso, salvo quando perceber algum obstáculo que possa colocar o cego em risco de vida. ” (LIBERMAN, 2015, p.194). Assim atrelamos a esperança, a uma espera fértil que conduz para a ação; momento de meses de partilhas, diálogos e espera para iniciar os trabalhos com grupos de mulheres previstos para o ano de 2022. Bordar a espera abre para expor com registros fotográficos bordados em andamento (ainda não concluídos), mostruário de pontos de bordado manual e riscos, ou seja, narrativas têxteis dos avessos. "Na costura manual e no bordado também podemos extrapolar. Para quê bordar somente os pontos tradicionais (a exemplo do ponto-haste, ponto-atrás, ponto-corrente) se podemos criar nossos próprios pontos? ” (LEMOS, 2021, p.74). Estamos a alinhavar os primeiros pontos que carecem para compor a trama comunitária. É importante um nó para urdir a linha-guia do novelo do nós (coletivo, grupo). O primeiro gesto de um trabalho têxtil é o nó. Ancorar sobre o tecido a linha oriunda do novelo, do eco-novelo, fios ecológicos vitais que celebram nossa Mãe-Terra. Bordar a espera é bordar um esperançar! |
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Flavia Liberman: Possui graduação em Terapia Ocupacional pela Universidade de São Paulo (1981) e Mestrado em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994). Doutora pelo Núcleo de Estudos da Subjetividade no Programa de Psicologia Clínica da PUC- SP (2007) e Pós- Doutorado no Centro de História da Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora (CHAIA-UE-Portugal ). Atualmente é Professora Associada do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo- Campus Baixada Santista, São Paulo- Brasil e do Programa Interdisciplinar em Ciências da Saúde e do Programa de Mestrado Ensino em Ciências da Saúde ( Profissional) da UNIFESP. Tem como linhas de investigação o corpo, as práticas corporais , as artes e ações na comunidade. Membro do Laboratório Corpo e Arte da UNIFESP- Campus Baixada Santista e integrante do Laboratório Interinstitucional de Atividades Humanas e Terapia Ocupacional. Autora dos Livros: Danças em Terapia Ocupacional (1995), Delicadas coreografias: instantâneos de uma terapia ocupacional (2008) e Grupos e Terapia Ocupacional (2015) e diversos artigos sobre o tema.
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Viviane Maximino: Terapeuta Ocupacional pela Universidade de São Paulo (1981), Doutora em Saúde Mental pela Universidade de Campinas (1997), Pós-Doutora pelo departamentode artes da Goldsmiths University of London (2017). Professora Associada aposentada do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Brasil, atualmente é prof. convidada do Programa Interdisciplinar em Ciências da Saúde desta universidade. Pesquisadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Formação e Trabalho em Saúde, (LEPETS), é sócia-fundadora da IBI TERRA VIVA, empresa de ações ambientais focada em Educação Ambiental vivenciada e na gestão de resíduos orgânicos e implantação de hortas urbanas na cidade de São Paulo, Brasil. É integrante do Laboratório Interinstitucional de Atividades Humanas e Terapia Ocupacional e seu interesse está nas relações entre Corpo, Arte, Cuidado e Natureza. Autora dos Livros: Grupo de atividades com pacientes psicóticos (2001) e Grupos e Terapia Ocupacional (2015) e diversos artigos sobre o tema.
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Angélica Carvalho Lemos: Possui graduação em Terapia Ocupacional pela (UFTM, 2011). Mestrado em Reabilitação e Desempenho Funcional (Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM, 2017). Pesquisadora colaboradora voluntária do projeto "Identidade do artesanato de tradição cultural do Triângulo Mineiro (2019-atual, integrado ao Programa Interfaces entre Artes, Ciências & Matemática – Universidade Federal do Triângulo Mineiro, UFTM). Aperfeiçoamento em Gestão e abordagens culturais como visão estratégica para mobilização do desenvolvimento sustentável (UFPB-2020). Doutoranda do Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde -PPGICS – UNIFESP. Idealizadora do Coletivo "Mulheres de Herança Artesã".
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